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1. / 2. / 3. / – – poesia literatura, fragmentos da historia. por frederico martucci

1.

Desço a Noronha Torrezão na chuva, quieto.

Sinto dores por minhas pernas e em meus pés.

A lateral exterior dos meus dedinhos está doendo muito hoje.

Acordei às duas da tarde.

Saí, almocei sozinho. Sem fome.

(sinto que preciso comer comida)

Aluguei dois filmes na locadora.

Estive deitado o dia todo. Preguiça.

Vi os dois filmes alugados e um terceiro que havia comprado na Uruguaiana durante a semana, pirata.

Uma comédia, um filme de catástrofe/fim do mundo e outra comédia.

O saldo –  continuo sentindo meus dedinhos implorarem perdão, para que cesse a dor .

2.

Continua chovendo, são 11:30 da noite, dia dos namorados.

Estou sozinho, como sempre.

Não que não tenha namorado, na verdade, namorei pouco,

poucas meninas que realmente achava que amava, ou de fato amava,

poucas as que apostaram em mim enquanto planejava apostar nelas também!

Muitos desencontros. Quero sair sem guarda-chuva, andar e fumar um cigarro,

beber uma cerveja e tentar resistir à idéia de que a única solução é a morte.

Dramático, eu sei. Não me mataria, mas isso não impede que às vezes deseje brincar com a morte.

3.

Mudanças!!

Não escrevia há três semanas e neste intervalo muita coisa aconteceu!

Clichê e brega, sei eu sei, …mais coisas aconteceram,

e fizeram com que eu voltasse a acreditar em mim!

(engraçado como isso faz uma enorme diferença)

Você pode estar exatamente igual em tudo, amores, dinheiro e saúde.

Acreditar ou não em si é o que faz uma puta diferença!

Acreditar lança luzes onde antes havia escuridão. Gera ânimo e disposição!!

(amanhã muda tudo outra vez… Como fui estacionar aqui?)

– A idéia era contar uma história linear, temporalmente falando…

mas advirto-o!, de que não me absterei de comentar o presente,

mas que nunca, eu miro o presente!!

!! tentando esquecer o passado e tentando não me preocupar muito com o futuro !!

… – por mais engraçado e dúbio que seja – …estar aqui contando o passado e admito!!

(vocês ainda não sabem),

com reais motivos concretos e tudo! para estar preocupado com o futuro. (!!)

Será que realmente vale a pena? Ou está confuso demais?

Se estiver, sinal de que estou sendo fiel e sincero. –

A única coisa que me interessa de fato são as pessoas,

seja você, uma ou outra.

…..Se a historia for bem contada……..

O que você seria? / Sucesso sozinho no deserto / Soneto para Ourique – fredericomartucci poemas poesias

O que você seria?

Se fosse gosto,
seria como chocolate.
Se fosse luz,
um azul bem gostoso,
bem clarinho…
Até se fosse uma pedra,
serias a montanha mais alta e bela!
E se fosse praia?
Poderia ser uma bem pertinho…
e mergulhar e mergulhar…
Se tú fosse uma estrela….
todo aquele encanto,
são todas lindas, todas as estrelas…
Ás vezes não desejo ver o sol nascer,
que nos torna cegos
para ver estrelas ao amanhecer…
Se tú fosse um bichano,
te vejo atrás de bolas de pano,
me encantaria cuidar,
tê-la nos braços
eternos só seus abraços.

Sucesso sozinho no deserto

Se faço certo, sucesso!!
Tudo em volta cresce,
se sucedem coisas,
de quase tudo um pouco…

Passo reto.

Se erro,
não me descabelo,
não me jogo ao chão,
não me afogo no lago,
não faço pirraça, em atenção.

Passo reto.

Prometi mesmo cansado lutar,
descrever o que meus olhos conseguem ver,
o que imaginam ver, certo e errado,
sucesso no deserto ou no teatro.

Soneto para Ourique

Ei, estou morrendo de vontade
de fazer um soneto para você,
tenho vontade de inventar um assunto,
fazer um interurbano, te dar um beijo, enlouquecer.

Não inventaria agora que te amo,
patético, ah…mas como eu gosto de você!
Como tenho dúvidas sobre tí,
deveria ter tentado uma vez mais envolver-te?

Minha amiga, gentil namorada
de minhas noites insones,
porque tanto hesito quando penso em você?

Já te fiz me querer,
já me fiz te perder,
vou ligar agora e dizer que fiz este soneto só para você!

“Palavras Grandes”, “Você morre de medo…” e “Um Pequenino Fado” – frederico martucci poemas poesias

Palavras Grandes

Apaixonado; soterrado…

sorrindo; desaprendendo…

fiel como o sol ao céu

pequenino foco sutil…

imaginativo movimento

de imaginar o criativo

impulso de criar de impulso

como se a vida estivesse em jogo

a todo momento,

se pegasse fogo,

se levasse um soco,

se minha menina me olhasse torto…….

Desaprender…

achar algo novo…

mesmo soterrado ou apaixonado,

por mim, por todos os outros…

um de cada vez, os dois, ou três,

preciso de mais ou menos isso

para começar a gostar de vocês….

depois dos beijos seus, meus…

depois de começar a escrever…

não conseguiria mais viver daquele mesmo jeito antigo…

que provavelmente viveria até morrer.

Mas isso foi um pouco antes de te conhecer.

Você morre de medo de ser minha amiga achando que posso criar expectativas que não se concretizarão e ai…

(sobre seus receios e minhas expectativas…)

Você fica com medo do fardo de me fazer sofrer, e se ausenta…

Por tantas coisas já passei, tantas transformações,

tantas idas e vindas, uma estação errada e finalmente me encontrei.

E lhe garanto! Por você o que sinto só os anjos explicariam, não tentarei!

Você nunca me destes motivos para sofrer, e sempre ao meu lado,

você foi o que eu queria, o que sempre sonhei.

A vida nos separou e hoje reconheço um novo começo quando te encontrei!

Nunca mais à questionarei! Tudo que precisava naquele momento aconteceu!

Sentia-te ao meu lado, bem pertinho, para todo o sempre me cativou, te cativei…

Sua dolorosa partida senti de uma forma assustadora,

e de tamanha dor, num terreno tão inóspito brotou uma linda flor.

Saiba que sou o homem mais interessante que já lhe beijou!

O que mais te amou, o mais louco e imprevisível maluco

que verdadeiramente viveu, ao seu lado um grande amor!

A sinceridade e as palavras são minhas amáveis e cruéis armas,

e se assusto os que miro, não lamento mais, os redimo.

Pobres os que se privam, a vida me reserva um destino,

e aos que queiram estar ao meu lado, os convido ao meu mundo,

entrem, a luz sempre acessa, se for você, me ilumino.

Um pequenino fado

Oh dor, avante

além mar

se estou aqui ou distante

acompanhaste-me

e para atenuar-te canto

faço filme, durmo pouco e danço

desatento deslumbramento meu

outrora enriquece sonhos

de menino moço perdido, entediado….

Carta ao Senhor / O Ausente / Insônia – frederico martucci / poemas

Carta ao Senhor

Deus,

tenho tentado escrever, compor palavras,

mas ando meio desligado, distante disso…

escrevo só de vez em quando

(ás vezes até com louvor…)

são e-mails; cartas à novos e  antigos amigos….

daí me ocorreu escrever uma carta também para o Senhor.

Sendo quem és não preciso de pudor certo?

o Senhor sabe de tudo não é?

inclusive o que se passa em minha mente e coração…

…que legal! assim poupo tempo, inventando uma razão…

Isso poderia até ser bom,

mas começar assim como posso começar com o Senhor,

sem nada poder esconder (mesmo que quisesse)…

nos garante uma conversa sincera, e isso almejo…

além disso, posso pular direto para a parte dos conselhos?…

Me diga, o Senhor teria para mim alguma dica?

Digo, te entendo, sei que não pode abrir o jogo assim…

mas quem sabe discretamente, uma idéia para este momento?

O que?! Calma ai!! acho que o Senhor falou comigo certo?

É para ouvir meu coração? Olha, isso eu até sei…

mas acontece que ele anda meio histérico ultimamente…

as vezes fala e não entendo, anda batendo loucamente.

Mesmo não podendo me dar uma mãozinha,

é bom falar com o Senhor, pois o Senhor me entende.

Ouvistes a última música que compus e gravei?

Viu os poemas que fiz e digitei?

O que o Senhor achou? É bom? Nada de mais, eu sei…

melhor que os mesmo, acho bom fazê-los…

Sabia que o senhor curtia……

Enfim, sei da minha parte,

Mas bem que o Senhor podia me dar uma mãozinha…

Talvez a oportunidade de um novo e grande amor!!

Isso seria muito bom para mim,

o Senhor sabe disso…

Sabe como fico animado com a vida,

tendo por perto uma sincera menina.

Lhe deixarei em sua eterna paz,

sei que outros e muitas coisas o solicitam,

este mundo que vivo anda louco,

e sabendo de novidades, te digo.

Agradeço cada momento vivido,

oferecido por ti da beleza desconcertante do infinito.

O Ausente

Se não você, se não agora…

(penso que já esperei demais…)

então quem? então quando?

(se ao menos alguém escrevesse sobre….)

Se faria presente mesmo ausente?

Se tudo posto foi consumido, fogo…

polinizar-se-iam cinzas? um rosto….

mesmo em terreno consumido, fosco?….

Tosco pensamento…

um eterno ausente…

em sua vida ainda presente.

Que está cheia, enquanto a minha vazia;

que está quente, a minha consumida;

que está presente, enquanto eu ausente.

Insônia

O sempre pode ser demais.

A angústia é vivida a cada segundo.

E sempre parece interminável.

A insônia que atravessa a madrugada,

É como morrer afogado.

Lentamente você lamenta a falta de ar,

A valorização de cada segundo em vão.

A sobriedade nauseante daquele instante,

Que não se consegue aproveitar.

Soneto ao meu amigo / Soneto para agradecimento – frederico martucci

Soneto (sonetto em italiano, pequena canção ou, literalmente, pequeno som) é um poema de forma fixa, composto por 14 versos.O soneto possui uma estrutura lógica com uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão, constituída pelo último terceto; esta última tomou o nome de “chave-de-ouro”, porque se constitui como decodificadora do significado global do poema.

Soneto ao meu amigo

Como tornar palpável,

em meu peito cheio,

como tornar visível,

do meu próprio jeito.

Que forma teriam,

as letras postas em linha,

o sentimento transformado,

o agradecimento imenso entregue e embrulhado?

Numa caixinha colorida,

com fita vermelha listradinha,

o presenteado o que imagina??

Sai da caixa um “muito obrigado!”

um certificado carimbado,

para um amigo eternamente lembrado!

Soneto para Agradecimento

Quero agradecer a ti,

não sei se te conheço,

agradecer tua gentileza,

teu jeito, não te esqueço.

A cada desconhecido que me informou a rua certa.

A cada mendigo que me pediu um cigarro.

A cada carro que parou para eu atravessar.

A cada um que me olhou com ou sem pesar.

Quero agradecer surpreso de ver,

delicadeza e gentileza tomam conta,

por completo e em absoluto do meu ser.

Se não sorri, se chorei,

emociona-me cada detalhe

uma vida que assim imaginei.

um pouco sobre família

Cap. 1

Em 23 de outubro de 1978 nasci. Segundo filho dum casal improvável, minha mãe carrega um nome de origem alemã e meu pai um de origem italiana. Não só o nome, carregam de forma incrível uma personalidade bem definida de temperamentos opostos. Até onde sei, minha mãe é uma mulher forte (fortíssima), centrada, não leva muito jeito para brincadeiras, séria e inteligente, não gosta de perder tempo com besteiras. Já meu pai é uma figura ímpar, inteligente, teve diversas oportunidades na vida de “se dar bem”, suas escolhas no entanto o levaram para o oposto disso, e ainda assim, sempre de bom humor, um exímio contador de histórias, com forte tendência para as comédias.

Quando dei por mim, já eram separados. Na infância tive pouco contato com meu pai, e minha mãe representava tudo. Passava o dia trabalhando e a noite desenvolvendo sua grande paixão na vida, ajudar o próximo. Engraçado, pois essa doação nos privou de um contato maior com ela, que saia cedo e voltava tarde todos os dias. Ainda sim, a marca de sua vida é presente como o ar para mim. Admiro-a sinceramente. Não me prolongarei agora sobre ela pois é tão presente que volta e meia estarei me referindo a ela.

Meu pai dentre tantas coisas chegou a ser jogador de futebol profissional. Infelizmente, o único jogo que assisti de sua breve carreira, foi em Itaocara, cidadezinha do interior do Rio de Janeiro, não lembro os clubes, e só lembro de um único lance do jogo. Era um jogo difícil, truncado, meu pai era atacante. Eu era pequeno e me divertia com minha irmã e meus primos ao lado do alambrado. Num relance, olhei para o jogo e meu pai estava recebendo um bolão, dentro da área, fez tudo certo, a plástica da jogada era bonita, e então….Penalti! o zagueirão adversário que era bem maior que meu pai o levantou um dois metros do chão, cabeludo na época, ele fez aquela cena. Acho até que realmente machucou, mas ele levantou destemido, pegou a bola e falou: “Eu bato!”

Que orgulho! que momento! o jogo ainda estava 0X0. O juiz apronta tudo, papai corre pra bola e: sei lá o que aconteceu! Juro que não lembro, meu pai perdeu o pênalti! Não sei se jogou pra fora, se o goleiro agarrou ou talvez tenha mesmo tropeçado e falhado no chute. Enfim, o único jogo que vi do meu pai ele perdeu um pênalti. Isso basta.

Depois de grande o ouvi contar cada história dele e meu tio….daria um filme. Nesta mesma cidade, Itaocara, um belo dia meu pai acordou e não viu sua brasília 1.6 na garagem. Quando meu tio chegou, tinha novidades:

– Fiz um ótimo negócio!!

Não era bom sinal, meu tio era muito impulsivo…..

– Troquei “nosso” carro por cinco cabras!!

– Como assim “nosso carro”? Cinco cabras!!?? O que vamos fazer com cinco cabras? Onde vamos por isso, alimenta-las?…….que loucura……

-Não se preocupe, venderemos o leite, compraremos dois carros!!

-Isso não vai dar certo, que furada! Onde vamos por as cabras?

-Aqui no quintal, está ótimo!

Claro que não estava, praticamente não havia quintal, não havia mato para as cabras comer….o tempo esquentou entre os dois irmãos….meu pai esbravejou e mandou meu tio resolver a questão, não havia chance de manter cinco cabras magras no quintal.

Meu tio saiu, levou as cabras, e horas depois retornou.

-Resolvi tudo!

-Como?

-Pedi para Arnaldinho guarda-las em seu sítio.

-Arnaldinho não…….

Arnaldinho era um conhecido ladrão de gados e afins da região.

-Como você entrega cinco cabrinhas para um ladrão tomar conta delas? Você fudeu com tudo!!!

Meu tio não gostou de ouvir a verdade daquela maneira, saiu emburrado falando que ia resolver tudo, iria desfazer o negócio. Obvio que quando procurou, não encontrou nem Arnaldinho nem as pobres cabras. Parece que levou uns cinco angustiados dias para meu tio conseguir fazer contato com seu nobre amigo, que lhe explicou tudo direitinho:

-Poxa, o que você queria, vendi as cabras, você sabe que eu “trabalho” com isso. Quanta sinceridade. Até onde sei, meu tio arrancou do tal Arnaldinho algum dinheiro, menos do que valeria a brasília 1.6 de meu pai. Com o dinheiro comprou um carro pior e voltou para casa. Estacionou, entregou a chave ao meu pai e disse:

-Pronto! Tudo resolvido. – acreditem, este é o fim da história.

Os dois tiveram também numa época uma construtora. Um ramo que envolve muito dinheiro. Estiveram bem por um tempo, até abrirem a participação da empresa para um judeu que no final das contas ficou com tudo. Não contarei essa história, apesar de já ter ouvido-a algumas vezes, esqueci os detalhes, mas se não me engano, tudo começou a desmoronar, quando meu tio vislumbrou idéias que meu pai não concordava, mas acabou fazendo. Meu tio era uma figura ótima, alegre, brincalhão. Todas as crianças adoravam ele e ele nos adorava a todos como verdadeiros filhos, muita atenção, paciência e idéias mirabolantes. Nessa época, nas férias, meu tio volta e meia acordava no meio da noite para ficar fazendo barulhos e assustando os outros ocupantes da casa, sempre sorrindo, como uma criança. Gostaria muito de tê-lo agora ao meu lado, com todo esse seu jeito, seríamos amigaços.

Resumindo de forma clara e sucinta, em minha visão, a família de minha mãe tem a tendência de gerar pessoas sérias, comprometidas e organizadas para vida, planejadoras de futuros…..a família do meu pai gera pessoas com tendências de achar graça em sua própria desgraça. Pessoas mais desprendidas de tudo, muito ligada aos amigos que faz pela vida. Lá em casa, minha irmã puxou a família de minha mãe, e eu, a do meu pai. Hoje somos amigos, mas na infância, essa diferença fez com que eu e minha irmã resolvêssemos tudo no tapa. Parecia que minha vida irritava minha irmã, ela reclamava de tudo e isso me irritava também, quando a irritação de ambos dificultava a formulação de argumentos, saíamos na porrada.

Poema “Preciso lhe Dizer” – frederico martucci

Preciso lhe dizer

Porque raios não podemos dizer “eu te amo”

para alguém que mal conhecemos?

do amor não entendemos…. o amor se constrói!

Sim, eu sei… leva tempo e requer intimidade…

como é preciso em algum momento que este amor brote,

que germine agora e teste logo essa nossa sorte!

Não tenho vergonha nem modéstia de dizer,

que sou um poeta, diferente de tudo no viver.

Ora tímido, ora determinado a escrever

uma história que gostaria de ler.

Que nos fala sobre o amor, o que se constrói

e o que brota como cogumelo ao amanhecer.

Poderia escolher ser normal, educado, comedido,

sem querer comprometer-me…

Mas preferi escrever poemas, imaginando enlouquecer-te!

E não me peça para esquecê-la!

Se você quiser que me esqueça!

Mas permita-me viver cultivando aquilo que acredito ser…

a chance de fazer da vida uma vida linda de se viver.

Precisaria estar morto para esquecer de você!

Entenda que o poeta enquanto cria, às vezes assusta e preocupa,

dizem que estás louco… em sua solidão desnuda, escancarada….

Porque assustam as belas palavras? Se são belas, e quase ninguém fala?

Porque ser intenso afasta? Se a frieza indiferente é o que quase me mata…

No dia a dia igual a tantos outros pareceria,

mas que sentido haveria ser igual a tantos outros no momento que se cria?

Que sentido haveria dizer : eu te amo! Como tantos outros fariam?

Se só me restam as palavras para te conquistar, que sejam as mais belas,

Pois depois do gosto de você na vida, três dias em tua companhia,

Quem me julgará por dizer “eu te amo” se das belas palavras dependo tanto?

Quem pagará o enterro e as flores se eu me morrer de amores?

A hora íntima

(Vinicius de Moraes)

Quem pagará o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Quem, dentre amigos, tão amigo
Para estar no caixão comigo?
Quem, em meio ao funeral
Dirá de mim: – Nunca fez mal…
Quem, bêbedo, chorará em voz alta
De não me ter trazido nada?
Quem virá despetalar pétalas
No meu túmulo de poeta?
Quem jogará timidamente
Na terra um grão de semente?
Quem elevará o olhar covarde
Até a estrela da tarde?
Quem me dirá palavras mágicas
Capazes de empalidecer o mármore?
Quem, oculta em véus escuros
Se crucificará nos muros?
Quem, macerada de desgosto
Sorrirá: – Rei morto, rei posto…
Quantas, debruçadas sobre o báratro
Sentirão as dores do parto?
Qual a que, branca de receio
Tocará o botão do seio?
Quem, louca, se jogará de bruços
A soluçar tantos soluços
Que há de despertar receios?
Quantos, os maxilares contraídos
O sangue a pulsar nas cicatrizes
Dirão: – Foi um doido amigo…
Quem, criança, olhando a terra
Ao ver movimentar-se um verme
Observará um ar de critério?
Quem, em circunstância oficial
Há de propor meu pedestal?
Quais os que, vindos da montanha
Terão circunspecção tamanha
Que eu hei de rir branco de cal?
Qual a que, o rosto sulcado de vento
Lançará um punhado de sal
Na minha cova de cimento?
Quem cantará canções de amigo
No dia do meu funeral?
Qual a que não estará presente
Por motivo circunstancial?
Quem cravará no seio duro
Uma lâmina enferrujada?
Quem, em seu verbo inconsútil
Há de orar: – Deus o tenha em sua guarda.
Qual o amigo que a sós consigo
Pensará: – Não há de ser nada…
Quem será a estranha figura
A um tronco de árvore encostada
Com um olhar frio e um ar de dúvida?
Quem se abraçará comigo
Que terá de ser arrancada?

Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?

Rio de Janeiro, 1950

adicionando um novo hábito…

Caderno de poesias

No momento não trabalho, não estudo, não ganho dinheiro.

Quando me perguntam o que faço, assim disfarço:

“escrevo poesias! eu vivo, sou mendigo e sou palhaço.”

Conto como tudo começou… simples assim:

escrevia um e-mail e de repente me chamei de “poeta”!

tantos sorrisos sinceros e divertidos soltei,

que bati no peito e esta briga comprei!

Assim comecei a escrever minhas próprias poesias,

(algumas até com boas rimas…)

e não as faço almejando reconhecimento,

mesmo que sozinho no mundo estivesse, continuaria agora escrevendo.

As poesias deste caderno são fotografias de uma história…

minha história, mais uma história… (que não precisava ser contada…)

São fatos e reflexões, fragmentos de meu enredo,

minha vida como cenário, meus descasos, meus medos.

Se pudesse estar ao seu lado caro leitor,

explicaria melhor este meu projeto,

na verdade o que você lê é um manual,

explicações a respeito desta obra desnecessária,

feita pela máquina mais perfeita já criada…..

a única que desenvolve vontades inexplicáveis,

a única com direito à incoerência,

de derramar lágrimas em resposta

à tristeza, à alegria, à poesia.

Depois de ver nascer em mim o rascunho de um poeta,

comprei um caderno e escrevi na capa:

“Meu caderno de Poesia”!

Compus sinceros versos à minha mãe,

rascunhei a respeito de minha tristeza,

rascunhei a respeito de minha alegria,

sempre que posso sorrio ou derramo lágrimas

enfeitando meus rascunhos de poesias.